quinta-feira, 14 de maio de 2009

Poupança, a pior decisão

Pois bem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preocupado com os efeitos políticos na mudança do cálculo dos rendimentos da caderneta de poupança, pode optar pelo pior caminho. Em vez de enfrentar tecnicamente o problema, tende a tomar medidas paliativas em seu governo, deixando a resolução final para o próximo presidente. Uma decisão que contrasta com aquele presidente do primeiro mandato, que não se cansava de repetir não ter receios de tomar medidas impopulares em nome da estabilidade econômica. Agora, parece se curvar às pressões politiqueiras.

Pior ainda é que o caminho que vem sendo desenhado como preferido pelo presidente pode acabar beneficiando exatamente aquela turma que alguns petistas adoram atacar, mesmo muitos fazendo parte dessa galera: os rentistas. Isso mesmo, Lula pode isentar de alguns impostos as aplicações financeiras em fundos de investimentos. Objetivo: torná-los mais atraentes que a caderneta de poupança.

Dentro do governo, auxiliares de Lula culpam a oposição de ter transformado o caso da poupança numa bandeira política. Com isso, teria ficado impossível seguir pelo caminho mais racional. Qual seja? Acabar com aquela parcela de juros tabelados para o rendimento da caderneta de poupança. Se um dia isso fez sentido, no cenário que se desenha para o Brasil perdeu totalmente a razão de existir. Com a taxa básica de juros do Banco Central caindo, caminhando para ficar abaixo dos dois dígitos, esse rendimento tabelado trabalha contra o bom funcionamento da economia.

Bem, explicando um pouco melhor o caso, hoje a poupança rende 6% de juros garantidos todo ano, mais a variação da TR (Taxa Referencial) --calculada com base na média dos juros cobrados por bancos na negociação de CDBs. Com os juros do BC caindo, os fundos de investimentos --aplicação preferida da classe média para cima-- estão perdendo competitividade. Resultado: há o risco de uma migração de dinheiro dos fundos para a caderneta de poupança. E risco porque, nesse caso, o governo poderia ter dificuldades em rolar sua dívida, financiada pela grana dos rentistas aplicada nos fundos de investimento.

O governo deveria enfrentar de frente o caso e propor o fim dos juros tabelados de 6% anuais, deixando que cada banco ofereça a remuneração mais apropriada de acordo com as força do mercado. Mas só que a oposição disse que isso poderia representar um confisco ao estilo Fernando Collor --o que é uma grande mentira, mas na guerra política, infelizmente, tudo vale--, o suficiente para o governo Lula balançar e, pelo visto, optar pelo caminho mais fácil. Só que não o mais correto.

Valdo Cruz


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